A mídia sul-coreana informou nesta terça-feira, 16, que um alto diplomata do regime norte-coreano desertou para a Coreia do Sul em segredo em novembro do ano passado.
Ri Il Kyu, ex-embaixador da Coreia do Norte em Cuba, fugiu para o território sul-coreano com sua família, afirmando que a decisão foi tomada por “desilusão e raiva” com o regime norte-coreano.
“Todo norte-coreano pensa pelo menos uma vez em viver na Coreia do Sul”, disse Kyu ao jornal Chosun Daily. “A desilusão com o regime norte-coreano e um futuro sombrio me levaram a considerar a deserção”, acrescentou.
A gota d’água, segundo Kyu, foi quando o Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte negou seu pedido para receber tratamento médico no México por uma lesão que o serviço médico cubano não poderia prover.
Kyu também disse que estava recebendo “avaliações injustas” de seu desempenho após se recusar a pagar subornos a um alto funcionário do governo norte-coreano para abrir um restaurante em Havana em agosto de 2019.
Kyu, contudo, não deu detalhes sobre como conseguiu a fuga de alto risco com a família. “Comprei as passagens aéreas e liguei para minha esposa e meu filho para contar sobre minha decisão, seis horas antes da deserção. Eu não disse Coreia do Sul, mas disse, vamos morar no exterior”, contou.
O diplomata ingressou no Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte em 1999, tendo sido condecorado pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un, por conseguir, com êxito, negociar com o Panamá a liberação de um navio norte-coreano que transportava armas de Cuba em 2013.
Desde 2019, ele era responsável por assuntos políticos na embaixada norte-coreana em Havana e seu papel era especificamente “obstruir a construção de relações diplomáticas entre a Coreia do Sul e Cuba”.
Três meses depois da deserção, Seul e Havana anunciaram a retomada das relações diplomáticas.
Esse é o primeiro diplomata de mais alto escalão a fugir da Coreia do Norte desde Thae Yong Ho, vice-embaixador da Coreia do Norte no Reino Unido, que desertou em 2016.
Thae, por sua vez, escreveu uma carta aberta no Facebook comemorando a deserção do colega: “Uma notícia muito boa (…) A Coreia do Sul é um ótimo lugar para se viver”, disse. “Vamos lutar por uma Coreia unificada por todos os meios”.
O Ministério da Unificação da Coreia do Sul revelou recentemente que houve um número recorde (196) de deserções entre altos funcionários norte-coreanos em 2023.
Os detalhes sobre as deserções dos norte-coreanos geralmente demoram meses para serem divulgados, com os desertores precisando ser investigados e liberados pelas autoridades e passar por um curso de educação sobre a sociedade e os sistemas sul-coreanos.
Os norte-coreanos que tentam fugir enfrentam punições severas, inclusive a morte, de acordo com grupos de direitos humanos e desertores que foram bem-sucedidos.