Há mais de 74 mil anos, o vulcão Monte Toba, localizado na província de Sumatra, na Indonésia, sofreu uma das maiores erupções da história do planeta, o que poderia ter causado uma alteração climática drástica que levaria a humanidade à extinção. Contudo, isso não aconteceu.
De acordo com um novo estudo publicado na revista Nature por pesquisadores da Universidade do Texas, a explosão causou um inverno vulcânico intenso o bastante para eliminar a maioria dos primeiros humanos.
Contudo, após uma análise de um sítio arqueológico no noroeste da Etiópia, que foi ocupado pelos primeiros humanos, o evento pode não ter sido tão apocalíptico assim.
A nova pesquisa encontrou humanos na região, conhecida como Shinfa-Matema 1, adaptados às condições áridas geradas pela erupção vulcânica de uma forma que pode ter facilitado a migração crucial da humanidade da África para o resto do mundo.
Fragmentos microscópicos de vidro vulcânico encontrados ao lado de ferramentas de pedra e restos de animais na mesma camada de sedimentos no sítio Shinfa-Metema 1, perto do rio Shinfa, na Etiópia, mostram que os humanos estavam ocupando o local antes e depois da erupção do vulcão, a mais de 4.000 quilômetros de distância.
“Esses fragmentos têm menos do que o diâmetro de um fio de cabelo humano. Mesmo tão pequenos quanto (isso), eles ainda são grandes o suficiente para analisar a química e os oligoelementos”, disse John Kappelman, professor de antropologia e ciência geológica da Universidade do Texas em Austin e principal autor do estudo.
Ao examinar os restos arqueológicos e artefatos encontrados no local, juntamente com análises geológicas e moleculares, a equipe começou a entender como os habitantes da região evoluíram, apesar da possibilidade de alteração climática causada pelo cataclismo vulcânico.
Para entender o clima na época da erupção, Kappelman e seus colegas analisaram isótopos de oxigênio e carbono, variações do mesmo elemento, de cascas de ovos de avestruz e dentes de mamíferos fossilizados. Esse trabalho lançou luz sobre a ingestão de água e revelou que os animais comiam plantas que eram mais propensas a crescer em condições com secas severas.
“Os isótopos são incorporados nos tecidos duros. Então, para os mamíferos, olhamos para os dentes, o esmalte dos dentes, mas também encontramos na casca do ovo do avestruz”, disse.
Uma análise da flora e fauna do local também mostrou uma grande quantidade de restos de peixes após a erupção. A descoberta talvez não seja surpreendente, uma vez que o local estava próximo ao rio, mas os peixes são raros em outros locais da Idade da Pedra do mesmo período, observou os pesquisadores.
“As pessoas começaram a aumentar a porcentagem de peixes na dieta quando o Toba entrou em erupção. Eles capturaram e processaram quase quatro vezes mais peixes (do que antes da erupção)”, disse ele.
“Achamos que a razão para isso é porque, se Toba estava, de fato, criando mais aridez, isso significa que havia uma estação chuvosa mais curta, o que significa uma estação seca mais longa.”
A equipe teorizou que o clima mais seco, contraintuitivamente, explica o aumento da dependência de peixes: à medida que o rio encolheu, os peixes ficaram presos em buracos de água ou riachos mais rasos que os caçadores poderiam atacar mais facilmente.