Os profissionais de saúde canadenses estão enfrentando reações negativas por encorajar uma mulher com deficiência a considerar a Assistência Médica na Morte (MAID), aprovada em fevereiro de 2016.
Heahter Hancock, que foi diagnosticada com Paralisia Cerebral Espástica aos 2 anos, contou que deveria ter morrido ainda criança, pois tinha apenas 2% de chance de sobrevivência. “Não há explicação médica para isso… mas Deus”, disse ela em um artigo para a Eutanasia Prevention Coalition.
“Os médicos disseram que eu ‘nunca seria nada’ e deveria passar o resto da minha curta vida em uma instituição (…) mas essa falsa suposição caiu aos três anos, quando eu tinha o QI de uma criança de cinco anos. Minha condição é puramente física“, disse ela.
Aos 33 anos, Hancock perdeu a capacidade de andar sem apoio por uma progressão da condição que afetou severamente o movimento corporal e a coordenação muscular.
Após mais de duas décadas na carreira de escrituária, ela precisou se aposentar por conta da condição.
Entre 2017 e 2019, a condição se agravou e a impediu de se mover da cintura para baixo, forçando-a a procurar tratamento médico.
Enquanto ela estava em um hospital, Hancock explicou que notou uma mudança na forma como a equipe a estava tratando e, em alguns momentos, sentiu como se a estivessem zombando dela e a negligenciando completamente.
“Tive enfermeiras que me negligenciaram, obrigando-me a tentar andar enquanto ficavam à distância e observavam de braços cruzados rindo. Ficou evidente que a equipe médica preferiu não me tratar”, contou ela.
Em 2018, quando a MAID já havia sido legalizada há dois anos, um médico do Victoria General Hospital a questionou se já tinha considerado o suicídio assistido com base no “nível incessante de dor severa e fadiga com que vivia”. No ano seguinte, no mesmo hospital, médicos e enfermeiras lhe sugeriram a morte.
Hancock, contudo, jamais cogitou essa hipótese.
Ela resolveu se mudar de cidade, indo para Saskatchewan, na fronteira de Alberta. Mas sofreu uma queda na nova casa e foi levada para um hospital em Medicine Hat, onde ficou internada.
Além de sentir a mesma negligência da equipe médica durante sua estadia, Hancock contou que uma enfermeira veio à sua cabeceira e pediu que ela “fizesse a coisa certa” e considerasse o suicídio assistido.
“Se eu fosse você, tomaria num piscar de olhos. Você não está vivendo, você está existindo”, acrescentou.
Chocada, Hancock disse à enfermeira que ela não tinha o direito de “pressioná-la a aceitar a MAID” e que nunca aceitaria a eutanásia como opção de tratamento porque sua “vida tem valor e nenhum ser humano tem o direito de dizer o contrário”.
Em 2022, mais de 13.000 canadenses morreram por suicídio assistido médico. Desde sua legalização no país, um total de quase 45.000 mortes por MAID foram registradas.
De acordo com Alex Schadenberg, diretor da Coalizão de Prevenção da Eutanásia, um aumento chocante nas mortes via MAID é resultado de profissionais médicos aprovando pacientes que “sofrem de nada mais do que fragilidade” e outras condições aparentemente benignas.