Na noite de 3 de fevereiro do ano passado, um trem da Norfolk Southern que transportava em seus vagões substâncias químicas tóxicas, como o cloreto de vinila, acrilato de arebutila, acrilato de etilhexila e o éter monobutílico de etilenoglicol, sofreu um problema mecânico e descarrilou na pequena cidade de East Palestine, entre Ohio e Pensilvânia, contaminando o solo, o ar e a água da cidade.
Poucos dias após o descarrilamento, enquanto a grande mídia e o governo local tentavam acobertar o desastre, sete investigadores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) adoeceram ao entrevistar moradores na área do descarrilamento.
Mesmo com a toxicidade dos produtos químicos contaminando o abastecimento de água da cidade, deixando pessoas doentes e matando animais a centenas de quilômetros de distância, as autoridades disseram que os moradores poderiam retornar às suas casas apenas cinco dias depois do descarrilamento.
Na internet, os americanos começaram a acusar o governo de Joe Biden de tentar acobertar um dos maiores acidentes ambientais da história dos Estados Unidos, já que o próprio Biden se recusava a comentar qualquer coisa sobre o acidente.
Logo após o acidente, o NOAA começou a relatar que “Objetos Voadores Não Identificados” ou UAP (o novo termo) estavam sendo avistados em partes dos Estados Unidos. No entanto, logo descobriu-se ser balões científicos chineses que saíram de rota.
Agora, pouco mais de um ano depois do desastre, um estudo de pesquisadores da Universidade John Hopkins publicado na revista Environmental Research Letters revelou que o rastro tóxico no ar se espalhou para outros 16 estados americanos.
“Eu não esperava ver um impacto tão distante“, disse David Gay, Ph.D. em bioquímica e principal autor do estudo. “Há mais coisas acontecendo aqui do que a maioria das pessoas imaginaria, incluindo eu.”
De acordo com dados do estudo, os produtos químicos tóxicos atingiram da Carolina do Sul a Wisconsin e Nova Inglaterra nas semanas seguintes ao desastre. No geral, a poluição se espalhou por 14% da área terrestre dos EUA.
Os moradores próximos ao local do acidente começaram a relatar sintomas como erupções cutâneas, náuseas, vômitos e dores de cabeça nas horas seguintes ao descarrilamento, mas David acredita que as baixas concentrações químicas mais distantes do acidente não eram “tóxicas, mas são bastante incomuns em muitos lugares” vistos.
Muitos dos poluentes liberados no ar ainda podem ter escoado e afetado a vida marinha e vegetal.
“São concentrações bastante baixas, mas são muito altas em relação ao normal que normalmente vemos — algumas das mais altas que medimos nos últimos 10 anos“, disse David.
Em uma medida emergencial, as autoridades locais permitiram a queima controlada dos produtos químicos tóxicos e cancerígenos, como é o caso do cloreto de vinila, sob a justificativa de evitar uma explosão catastrófica.
No entanto, enquanto o cloreto de vinila queimava, ele se partia em íons separados de cloreto de hidrogênio na atmosfera que eram levados no ar para outras regiões. Consequentemente, quando houve chuvas nessas regiões, os poluentes contaminaram o solo.
O Programa Nacional de Deposição Atmosférica, da Universidade de Wisconsin, do qual David Gay é coordenador, coletou pedaços de solos em 260 locais diferentes dos Estados Unidos semanalmente para monitorar esses poluentes após o descarrilamento.
Conforme demonstrou em estudo, as amostras de solo continham muito mais fuligem, cinzas, sujeiras e cloretos do que se comparado com amostras da década anterior.
Os índices mais altos de contaminação, fora Ohio e Pensilvânia, foram os estados do Michigan, Massachusetts, Nova York e Wisconsin.
“Este estudo é único e sofisticado, pois documenta claramente o impacto que esse tipo de acidente pode ter“, disse Juliane Beier, uma das principais especialistas nos efeitos do cloreto de vinila que não esteve envolvida no estudo.