Violência generalizada eclode no território francês da Nova Caledônia, no Pacífico

As autoridades acusam a Unidade de Coordenação para Ações de Campo (CCAT), uma organização de separatistas da Nova Caledônia, de estimular os tumultos desde maio, após o debate do projeto de reforma.

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Uma violência generalizada eclodiu desde segunda-feira no território francês da Nova Caledônia, que fica no Oceano Pacífico, por conta de um polêmico projeto de reforma eleitoral.

Segundo as autoridades, manifestantes separatistas incendiaram um posto avançado da polícia, edifícios e um veículo de emergência na comunidade de Dumbea, localizada ao norte da capital Noumea. Outras cidades também registraram episódios de confronto, depredação ou incêndios.

A proposta de reforma eleitoral que causou revolta na população permitia que cidadãos nascidos na França, mas que vivem na Nova Caledônia há dez anos, pudessem votar nas eleições locais.

Os líderes do movimento pró-independência da ilha afirmam que a medida diminuiria o poder de voto do povo indígena Kanak, que sofreu décadas de discriminação.

Os manifestantes, no entanto, saquearam dezenas de casas e empresas em Noumea e estabeleceram bloqueios de estradas vitais na entrada e saída da capital, impedindo a entrega de alimentos e medicamentos aos cidadãos e turistas presos em suas casas e resorts.

As autoridades acusam a Unidade de Coordenação para Ações de Campo (CCAT), uma organização de separatistas da Nova Caledônia, de estimular os tumultos desde maio, após o debate do projeto de reforma.

Até o agora, nove pessoas morreram devido aos distúrbios. Quase 1.500 pessoas foram presas desde meados de maio, quando os motins começaram de forma menos violenta. Na segunda-feira, 38 pessoas foram presas.

Emmanuel Macron, presidente francês, suspendeu a reforma proposta após visitar a Nova Caledônia no final do mês passado, mesmo assim, os manifestantes querem declarar independência da França.

O território, que era habitado por indígenas, foi colonizado pelos franceses em setembro de 1853, sob ordens do então imperador Napoleão III. 

Daquele ano em diante, as cidades, incluindo a capital Noumea, e toda a sua infraestrutura foram desenvolvidas pelos franceses.

Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, o território se tornou uma importante base aliada, e a principal base da Frota do Pacífico Sul da Marinha dos Estados Unidos, que ajudou a derrotar os japoneses.

Em 1946, após o fim da Segunda Guerra, a Nova Caledônia se tornou um território ultramarino francês. No entanto, a relação com a França sempre esteve conturbada nos anos seguintes.

Os Acordos de Matignon e Noumea, firmados em 1988, estabeleceu bases para uma transição de 20 anos que transferiu gradualmente competência para o governo local, assegurando uma década de estabilidade. 

O acordo também estabeleceu as bases para um referendo sobre a independência total da França, que ocorreu no final de 2018, com a independência sendo rejeitada pela população. Outros referendos foram realizados em 2020 e 2021, mas a população novamente rejeitou a independência. Os separatistas nunca aceitaram os resultados.

Gabriel Ferrigno
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Gabriel Ferrigno

Jornalista independente e OSINT que já cobriu diversas guerras em tempo real, como a Guerra da Ucrânia, em 2022, e a guerra entre Israel e o Hamas, em 2023, bem como vários outros acontecimentos pelo mundo, como o lockdown na China durante a pandemia.

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